Quando a Criança ou Adolescente se Recusa a Visitar o Genitor: O que Fazer?

É o dia da visita. A mala está pronta, o carro está na porta, mas a criança se recusa a ir. Chora, grita, se esconde. Ou, no caso do adolescente, ele simplesmente diz “não vou” e se tranca no quarto. Esta situação é uma das mais angustiantes e complexas para pais separados. Para o genitor que espera a visita, a recusa é sentida como rejeição e dor. Para o genitor que está com a criança, a situação é um dilema: forçar o filho a ir, contrariando sua vontade, ou desrespeitar a ordem judicial de convivência? A resposta não é simples e exige uma investigação cuidadosa das causas por trás da recusa, pois a abordagem correta depende drasticamente do motivo.
A primeira e mais importante atitude de ambos os pais deve ser não transformar a recusa em um campo de batalha imediato. Forçar uma criança pequena fisicamente a entrar no carro ou ter uma discussão explosiva com um adolescente raramente resolve o problema; pelo contrário, tende a agravar a situação e a solidificar a resistência. O passo inicial é a investigação empática. O genitor guardião deve tentar conversar com a criança, em um momento de calma, para entender o que está acontecendo. As razões podem ser múltiplas e variar em gravidade:
- Motivos Simples e Passageiros: A criança pode não querer ir porque isso a faria perder a festa de aniversário de um amigo, ou porque está no meio de um jogo interessante. Um adolescente pode ter uma prova importante na segunda-feira e prefere estudar em casa.
- Dificuldades de Adaptação: A criança pode se sentir desconfortável na casa do outro genitor por não ter um espaço seu, por haver regras muito diferentes ou pela presença de um novo parceiro com quem ainda não tem afinidade.
- Conflito de Lealdade: A criança pode sentir que, ao se divertir com um genitor, está “traindo” o outro, especialmente se percebe que o genitor guardião fica triste ou faz comentários negativos quando ela vai para a outra casa.
- Alienação Parental: Esta é a hipótese mais grave. A recusa pode ser o sintoma de uma campanha de difamação, na qual a criança foi manipulada para acreditar que o outro genitor é mau ou perigoso.
- Violência ou Abuso: A recusa pode ser um sinal de que algo de muito errado (violência física, psicológica ou abuso) está acontecendo na casa do outro genitor, sendo a recusa um mecanismo de autoproteção.
A conduta a ser tomada varia conforme a suspeita. Se o motivo for simples, como um evento social, a flexibilidade e a negociação entre os pais é o melhor caminho. Talvez a visita possa começar mais tarde ou ser compensada em outro dia. Se a questão é a adaptação, o diálogo entre os adultos para alinhar regras e tornar o ambiente do genitor visitado mais acolhedor é fundamental. O genitor que recebe a visita deve fazer uma autocrítica: estou criando um lar ou apenas um “espaço de diversão de fim de semana”?
Contudo, se a suspeita recair sobre alienação parental ou qualquer forma de violência, a situação muda completamente. Nestes casos, o genitor guardião não deve forçar a visita. Sua obrigação é proteger a criança. O caminho correto é: 1) Buscar ajuda psicológica imediata para a criança, para que ela tenha um espaço neutro para falar sobre seus sentimentos. 2) Documentar a recusa e os motivos alegados pela criança. 3) Procurar um advogado para comunicar os fatos ao juiz. O profissional poderá pedir a suspensão temporária das visitas enquanto a situação é investigada, por exemplo, por meio de um estudo psicossocial.
Para o genitor que está sendo recusado, é essencial não agir de forma acusatória. Em vez de ligar para o ex-parceiro com acusações, tente uma abordagem colaborativa: “Percebi que nosso filho não está querendo vir. Você sabe o que pode estar acontecendo? Como podemos resolver isso juntos?”. Se suspeitar de alienação, o caminho também é buscar orientação jurídica para pedir que a situação seja investigada. A recusa da criança em visitar um dos pais nunca deve ser ignorada. Ela é sempre um sintoma. Cabe aos adultos responsáveis a tarefa de investigar a causa com seriedade, empatia e, quando necessário, com o auxílio da justiça e de profissionais da saúde mental, para tratar a doença, e não apenas o sintoma.