Para a maioria dos usuários, o algoritmo das redes sociais é um mistério. Ele “apenas” sugere conteúdos que achamos interessantes, mantendo-nos conectados por horas. Mas, no universo infantil, esse “mecanismo de recomendação” pode ser uma das principais forças por trás da adultização digital. Quando uma criança começa a interagir com conteúdos de maquiagem, danças sensuais ou roupas de adulto, o algoritmo entende que esse é o tipo de conteúdo que ela quer ver, criando um ciclo de reforço que a empurra cada vez mais para um mundo que não é o dela. O algoritmo, longe de ser neutro, se torna um agente de adultização.
O Ciclo Vicioso do Engajamento e a Falta de Filtro
O principal objetivo de um algoritmo de rede social é maximizar o tempo de tela. Para isso, ele aprende sobre os interesses do usuário a partir de seus cliques, likes e compartilhamentos. No caso de crianças, o algoritmo pode facilmente ser enganado. Um vídeo “fofo” de uma criança usando maquiagem, por exemplo, pode levar a uma sequência interminável de tutoriais de beleza para adultos, ou a desafios que exigem posturas sexualizadas. Essa falta de filtro e a ausência de um “algoritmo de proteção” que reconheça a idade do usuário e o proteja de conteúdos inadequados é uma falha grave, que viola a dignidade e o direito de ser criança.
A Responsabilidade Legal das Plataformas: Uma Questão Ética e Jurídica
Embora as plataformas se defendam dizendo que a responsabilidade é dos pais, a lei começa a enxergá-las como corresponsáveis. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e outras leis internacionais de proteção de dados já exigem que as empresas tenham um cuidado especial com os dados de menores. No entanto, o debate agora se estende para a responsabilidade sobre o conteúdo. O ECA e o Marco Civil da Internet no Brasil já preveem a responsabilização das plataformas que falham em remover conteúdo ilegal, como imagens de abuso sexual infantil. O próximo passo é exigir que elas criem algoritmos que protejam ativamente a infância, priorizando o bem-estar em vez do engajamento.
As Consequências Psicológicas da Exposição Algorítmica
A constante exposição a conteúdos que impulsionam a adultização causa sérios danos psicológicos. A criança que segue um algoritmo de beleza adulta passa a se preocupar com sua aparência, com a dieta e com padrões de beleza inatingíveis. Isso gera uma pressão enorme, que pode levar a problemas de ansiedade, baixa autoestima e até transtornos alimentares. A criança é forçada a se desenvolver emocionalmente para um mundo que não é dela, sem a maturidade para lidar com as expectativas e as pressões. O direito a um desenvolvimento pleno e saudável, garantido pelo ECA, é completamente ignorado nesse processo.
O Desafio da Regulamentação e a Necessidade de Transparência
A regulamentação dos algoritmos é um dos maiores desafios da era digital. Governos e ativistas ao redor do mundo pedem mais transparência sobre como esses sistemas funcionam e exigem que eles sejam auditados para garantir que não estejam causando danos a grupos vulneráveis, como as crianças. Além disso, os pais precisam se tornar “mediadores digitais” mais ativos, usando as ferramentas de controle parental e conversando abertamente com seus filhos sobre os riscos.
O algoritmo não é uma força do destino; ele é um produto de programadores e de empresas que têm metas financeiras. É hora de exigir que a tecnologia seja usada para o bem-estar humano, especialmente para proteger aqueles que não podem se proteger sozinhos. Você está pronto para questionar o que o algoritmo está mostrando para as crianças da sua vida?