Os Erros Mais Comuns em um Processo de Divórcio e Como Evitá-los

Encarar um divórcio é como ser forçado a navegar em um território desconhecido e repleto de armadilhas. O objetivo é claro: chegar ao outro lado, a um novo começo, com segurança e justiça. No entanto, no calor do momento, guiados por emoções intensas e pela falta de informação, muitas pessoas cometem erros previsíveis que tornam a jornada exponencialmente mais longa, cara e dolorosa. Esses deslizes podem comprometer a partilha de bens, prejudicar a relação com os filhos e deixar cicatrizes profundas. Conhecer esses erros não é sobre apontar culpas, mas sobre fornecer um mapa para que você possa se desviar das armadilhas mais comuns e conduzir seu processo da forma mais estratégica e saudável possível.
Erro #1: Usar o Processo como um Palco para Vingança. Este é, talvez, o erro mais destrutivo. A dor e a raiva são sentimentos legítimos no fim de uma relação, mas tentar usar o sistema judicial para punir o ex-cônjuge é uma péssima estratégia. Criar obstáculos desnecessários, brigar por bens de pouco valor apenas para provocar, ou fazer falsas acusações são atitudes que apenas encarecem o processo com mais horas de trabalho para os advogados e prolongam o sofrimento de todos. O processo judicial não é o ambiente para disputas emocionais; seu objetivo é a resolução técnica de questões jurídicas e patrimoniais. Juízes percebem quando um processo está sendo usado para fins de vingança, e essa postura pode, inclusive, gerar uma percepção negativa sobre a parte que age dessa forma.
Erro #2: Tentar Ocultar Bens ou Fraudar a Partilha. Em uma tentativa desesperada de proteger seu patrimônio ou prejudicar o outro, algumas pessoas tentam esconder bens, transferi-los para o nome de terceiros ou subvalorizar ativos. Este é um erro gravíssimo com consequências severas. Tal prática, conhecida como “fraude à partilha”, quando descoberta, pode levar à perda total do direito sobre o bem ocultado, além da condenação ao pagamento de multas por “litigância de má-fé”. A transparência na declaração de todo o patrimônio não é uma opção, é uma obrigação legal, e a tentativa de burlar o sistema quase sempre é descoberta e acarreta prejuízos muito maiores do que a divisão correta do bem teria causado.
Erro #3: Colocar os Filhos no Meio do Fogo Cruzado. Nenhum erro é mais cruel do que usar os filhos como armas no divórcio dos pais. Falar mal do outro genitor para a criança, usá-la como mensageira de recados hostis, dificultar a convivência ou tentar manipular seus sentimentos são atitudes que configuram a Alienação Parental, uma conduta grave prevista na Lei nº 12.318/2010. Além dos danos psicológicos irreparáveis para a criança, a comprovação da alienação parental pode resultar em advertências judiciais, multas e, em casos extremos, na alteração do regime de guarda e até na suspensão da autoridade parental. Os filhos não são propriedade de nenhum dos pais; eles são sujeitos de direitos que precisam ser protegidos do conflito adulto.
Erro #4: Negligenciar a Assessoria Jurídica Especializada. O divórcio envolve questões complexas de direito patrimonial, sucessório e familiar. Tentar conduzir o processo sozinho, baseando-se em conselhos de amigos ou em informações genéricas da internet, é um risco enorme. Igualmente arriscado é contratar um advogado que não seja especialista na área. Contratar um advogado especialista em Direito de Família não é um custo, mas um investimento crucial na proteção dos seus direitos, do seu patrimônio e do seu futuro. Este profissional conhece as nuances da lei, as decisões recentes dos tribunais e as melhores estratégias para cada caso, evitando que você aceite um acordo desvantajoso ou perca direitos por desconhecimento técnico.
Erro #5: Fazer “Acordos de Boca” e Não Formalizar Tudo no Papel. “Resolvemos que eu fico com o carro e pago as duas últimas parcelas”. “Combinamos que ele pode visitar as crianças no terceiro domingo do mês”. Acordos verbais, por mais bem-intencionados que sejam, não possuem qualquer valor jurídico e são uma fonte inesgotável de conflitos futuros. Se o combinado não estiver detalhadamente descrito no acordo judicial ou na escritura pública de divórcio, ele legalmente não existe. Tudo, absolutamente tudo – da divisão de um simples móvel a um complexo plano de convivência com os filhos – deve ser meticulosamente escrito e formalizado. Essa é a única garantia de que o combinado será respeitado e, se não for, de que você terá como exigi-lo na justiça. Evitar esses cinco erros é o alicerce para transformar um potencial desastre em uma transição gerenciável e justa.