O Policial Chegou: Como é Cumprida a Ordem de Prisão Civil por Pensão Alimentícia?

A campainha toca em um horário inesperado. Ao abrir a porta, você se depara com um oficial de justiça, frequentemente acompanhado por policiais militares. Eles estão ali para cumprir uma ordem judicial: um mandado de prisão civil em seu nome. O coração acelera, a mente fica em branco. O que acontece agora? Como devo me portar? Conhecer o protocolo padrão para o cumprimento dessa ordem não é apenas uma forma de reduzir a imensa ansiedade do momento, mas também uma ferramenta para garantir que o procedimento ocorra dentro da legalidade e que seus direitos fundamentais sejam respeitados. Este artigo descreve, de forma clara e objetiva, o que esperar quando a Justiça bate à sua porta.

A Abordagem Oficial: Identificação e Apresentação do Mandado

O procedimento não deve ser arbitrário ou violento. A abordagem padrão começa com a identificação. O oficial de justiça e os policiais devem se apresentar e informar o motivo da diligência. Em seguida, eles lhe apresentarão o mandado de prisão. Você tem o direito de ler este documento. Nele, devem constar informações essenciais, como o nome do juiz que expediu a ordem, o número do processo, seu nome completo e, crucialmente, o valor da dívida que originou a ordem de prisão. Este documento é a legitimação da ação policial. Verifique se as informações estão corretas. Este é um ato formal, e a transparência é o primeiro passo para garantir sua legalidade.

O Cumprimento do Mandado: Sem Algemas, Como Regra

Aqui reside um dos direitos mais importantes e menos conhecidos pelo público geral. Diferente de uma prisão em flagrante por um crime, a prisão civil segue regras mais brandas quanto ao uso da força. A Súmula Vinculante nº 11 do Supremo Tribunal Federal (STF) estabelece que o uso de algemas é excepcionalíssimo. A regra é que o devedor de alimentos não seja algemado. As algemas só podem ser utilizadas em casos de resistência explícita à prisão ou se houver um risco concreto e fundamentado de fuga ou de perigo à integridade física dos policiais ou de terceiros. Se você cooperar e não oferecer resistência, o uso de algemas é considerado ilegal e constrangedor, podendo ser questionado judicialmente mais tarde.

O Encaminhamento: Para Onde o Devedor é Levado?

Após a formalização da prisão, você será conduzido. O trajeto usualmente se inicia em uma delegacia de polícia, onde a prisão é registrada oficialmente no sistema. De lá, o devedor deve ser encaminhado a um estabelecimento prisional adequado. A legislação processual e a Lei de Execução Penal preveem que o preso civil deve ser mantido em um local separado dos presos por infrações penais. O objetivo é não misturar alguém que cometeu um ilícito civil (não pagar uma dívida) com indivíduos que cumprem pena por crimes. Na prática, isso pode significar uma ala específica dentro de um presídio ou um centro de detenção provisória. Exigir o cumprimento desse direito é fundamental para a sua segurança.

A Comunicação: O Direito de Avisar a Família e o Advogado

Desde o momento da sua prisão, você não pode ser mantido incomunicável. Este é um direito constitucional fundamental. As autoridades policiais devem garantir-lhe o direito de realizar uma chamada telefônica para avisar um familiar sobre sua prisão e para contatar seu advogado. Este direito deve ser assegurado de forma imediata. A comunicação é a linha de vida que acionará sua rede de apoio e sua defesa técnica. É por meio desse contato que sua família saberá onde você está e que seu advogado poderá começar a trabalhar nas medidas cabíveis para a sua soltura, seja por meio do pagamento da dívida ou da impetração de um Habeas Corpus.

Saber o que esperar transforma a experiência de uma prisão, que já é traumática, em algo menos aterrorizante. O cumprimento de uma ordem de prisão civil é um procedimento regrado, não um ato de arbítrio. Ao se portar com calma, não resistir e estar ciente dos seus direitos – como a proibição do uso de algemas em regra, o direito à comunicação e o direito a uma cela separada –, você não apenas colabora para que o procedimento seja rápido e sem incidentes, mas também se posiciona como um cidadão que, mesmo em uma situação adversa, conhece e exige o respeito à lei e à sua dignidade.

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