“Meu Salário Aumentou, a Pensão Aumenta Automaticamente?” A Verdade Sobre o Reajuste da Pensão Alimentícia

A notícia de uma promoção ou de um aumento salarial é sempre motivo de comemoração. Para o pai ou mãe que paga pensão alimentícia, no entanto, essa alegria pode vir acompanhada de uma dúvida imediata e apreensiva: “Será que o valor da pensão do meu filho vai aumentar agora? E esse aumento é automático?”. Do outro lado, para o guardião que administra os recursos da criança, a notícia acende a esperança de um alívio no orçamento. A resposta para essa questão é uma das que mais gera confusão e depende crucialmente de como a pensão foi estabelecida na decisão judicial. Em regra, a pensão não aumenta automaticamente, mas o direito de pedir o reajuste nasce nesse exato momento.

A Base de Cálculo: A Chave que Define o Reajuste Automático (ou a Falta Dele)

Tudo depende da redação da sentença judicial. Existem duas formas principais de fixação, e elas determinam o reajuste:

  1. Pensão Fixada Sobre os Rendimentos Líquidos: Se a sentença determina que a pensão será de, por exemplo, “30% dos rendimentos líquidos do alimentante”, e o pagamento é feito por desconto direto em folha, neste caso específico, o aumento será, sim, automático. A empresa, ao calcular os 30%, aplicará o percentual sobre o novo salário bruto (após os descontos legais de INSS e IR), e o valor repassado à criança será naturalmente maior. O pagador não precisa fazer nada; o próprio sistema se encarrega do reajuste.
  2. Pensão Fixada em Valor Fixo ou em Salário Mínimo: Se a sentença estabeleceu o pagamento de um valor fixo (ex: R$ 1.200,00 por mês) ou de um percentual do salário mínimo (ex: 50% do salário mínimo nacional), a situação muda. Nesses casos, um aumento no salário particular do devedor não altera em nada o valor da pensão que ele é legalmente obrigado a pagar. Ele deve continuar pagando exatamente o que foi determinado na sentença, e não pode ser cobrado por um valor maior sem uma nova decisão judicial.

O Direito da Criança de Acompanhar o Padrão de Vida dos Pais

Se o aumento da pensão não é automático (nos casos de valor fixo ou atrelado ao salário mínimo), por que o aumento salarial do genitor é tão importante? Porque ele altera um dos pilares da obrigação alimentar: a “possibilidade” de quem paga. O princípio fundamental que rege a pensão é que o filho tem o direito de desfrutar de um padrão de vida compatível com a capacidade financeira de AMBOS os pais. Se a capacidade de um deles melhora significativamente, é justo e legal que a qualidade de vida da criança também melhore. O aumento salarial é o fato novo que justifica o reequilíbrio do binômio necessidade-possibilidade e abre a porta para a busca de um novo valor.

A Necessidade da Ação Revisional de Alimentos para Majorar (Aumentar) o Valor

Para que o aumento no salário do genitor se traduza em um aumento efetivo na pensão (nos casos em que não há reajuste automático), o guardião da criança precisa tomar a iniciativa. É necessário contratar um advogado ou buscar a Defensoria Pública para ingressar com uma Ação Revisional de Alimentos com pedido de majoração. Nesta ação, o objetivo será provar ao juiz duas coisas:

  1. A mudança na capacidade financeira do alimentante: Demonstrar que ele teve um aumento de renda.
  2. O aumento das necessidades da criança: Com o passar do tempo, as necessidades da criança naturalmente aumentam (escola mais cara, novas atividades, etc.).

A prova do aumento salarial do devedor pode ser um desafio se ele não for transparente. No entanto, “sinais exteriores de riqueza”, como a troca de carro, viagens ou uma promoção anunciada em redes sociais, podem ser usados como fortes indícios para que o juiz determine que a empresa do alimentante apresente os novos contracheques.

A promoção no trabalho ou um novo negócio bem-sucedido é uma conquista pessoal, mas que, no Direito de Família, deve refletir positivamente na vida dos filhos. A melhora no padrão de vida do pai ou da mãe gera para o filho o direito de também ter sua condição de vida melhorada. Este direito, contudo, não se efetiva sozinho. Ele depende da ação vigilante e proativa do guardião, que deve buscar a via judicial para garantir que a criança participe do sucesso financeiro de seus pais.

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