
A cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como cirurgia de redução de estômago, tem sido uma das principais alternativas para o tratamento da obesidade mórbida e doenças associadas. Contudo, a crescente judicialização envolvendo esses procedimentos tem chamado a atenção de médicos, pacientes e juristas.
Mas o que leva esses casos aos tribunais? Quais são os direitos dos pacientes e as obrigações dos médicos? Neste artigo, exploramos os principais pontos sobre as demandas judiciais envolvendo cirurgias bariátricas, abordando os desafios e as melhores práticas para evitar litígios.
A Judicialização da Cirurgia Bariátrica no Brasil
A judicialização ocorre quando o paciente recorre à Justiça para:
- Exigir a realização da cirurgia bariátrica, seja pelo SUS ou pelos planos de saúde;
- Buscar indenização por danos decorrentes de complicações ou insucessos do procedimento.
Com o aumento dos casos de obesidade no Brasil — onde cerca de 22% da população é obesa, segundo o IBGE —, a demanda por cirurgias bariátricas tem crescido significativamente. Porém, nem sempre o acesso ao tratamento é garantido, seja por negativas das operadoras de saúde ou por falta de estrutura no sistema público.
Além disso, os riscos inerentes à cirurgia e as altas expectativas dos pacientes podem gerar frustrações, levando a ações judiciais contra médicos e instituições.
Quando a Cirurgia Bariátrica Pode Ser Judicializada?
As principais razões para a judicialização da cirurgia bariátrica incluem:
1. Negativa de Cobertura pelos Planos de Saúde
Planos de saúde frequentemente recusam a cobertura do procedimento alegando:
- Ausência de indicação clínica;
- Não cumprimento dos critérios exigidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS);
- Exclusões contratuais ou alegação de que a cirurgia é estética.
O que diz a lei:
A Resolução nº 465/2021 da ANS determina que a cobertura da cirurgia bariátrica é obrigatória para pacientes com:
- IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 40;
- IMC acima de 35 associado a comorbidades, como diabetes tipo 2 ou hipertensão grave;
- Falha em tratamentos clínicos anteriores.
Jurisprudência favorável:
Os tribunais têm considerado abusiva a negativa de cobertura quando há prescrição médica e indicação clínica comprovada, obrigando as operadoras a custear o procedimento.
2. Insucessos ou Complicações Pós-Cirúrgicas
A cirurgia bariátrica, como qualquer procedimento invasivo, envolve riscos. Complicações como infecções, fístulas ou reganho de peso podem ocorrer, gerando ações contra os médicos.
O que deve ser avaliado:
- Se o médico seguiu boas práticas médicas e protocolos de segurança;
- Se houve consentimento informado adequado, alertando o paciente sobre os riscos e resultados possíveis;
- Se o paciente seguiu as orientações pós-operatórias, incluindo acompanhamento nutricional e psicológico.
Direitos dos Pacientes na Judicialização da Cirurgia Bariátrica
Os pacientes possuem garantias fundamentais quando se trata do acesso e da realização da cirurgia bariátrica:
- Direito à Saúde
Garantido pela Constituição Federal, o direito à saúde assegura que o SUS e os planos de saúde devem oferecer tratamentos essenciais, incluindo a cirurgia bariátrica nos casos necessários. - Cobertura Obrigatória
Se houver indicação médica e os critérios estabelecidos pela ANS forem cumpridos, a recusa de cobertura é considerada ilegal. - Indenização por Danos
Quando há erro médico comprovado ou ausência de informações sobre os riscos, o paciente pode buscar indenização por danos morais e materiais.
Obrigações dos Médicos e Medidas Preventivas
Os médicos que realizam cirurgias bariátricas possuem obrigações éticas e legais fundamentais para evitar complicações e litígios. Veja as principais:
1. Consentimento Informado
O médico deve fornecer um consentimento informado claro e detalhado, esclarecendo:
- Os riscos da cirurgia;
- Os resultados esperados e possíveis complicações;
- A importância do acompanhamento pós-operatório para evitar reganho de peso e outras complicações.
O paciente deve assinar o documento, demonstrando ciência das informações.
2. Seguir Protocolos de Boas Práticas
O procedimento deve ser realizado conforme os protocolos estabelecidos pelas sociedades médicas e diretrizes internacionais.
- Realize avaliações multidisciplinares (nutricionista, psicólogo e endocrinologista);
- Garanta que o paciente esteja apto física e mentalmente para a cirurgia;
- Documente todo o processo no prontuário médico.
3. Acompanhamento Pós-Operatório
O pós-operatório é crucial para o sucesso da cirurgia. O médico deve garantir que o paciente:
- Receba acompanhamento nutricional e psicológico;
- Seja informado sobre a necessidade de mudança de hábitos;
- Realize exames periódicos para monitorar o progresso e identificar complicações precocemente.
O Papel da Jurisprudência: Decisões Favoráveis aos Pacientes
A Justiça brasileira tem sido favorável aos pacientes em casos de negativa de cobertura e complicações pós-operatórias, desde que haja comprovação de:
- Prescrição médica adequada;
- Necessidade clínica;
- Falha no dever de informação ou erro médico comprovado.
Por outro lado, os médicos têm sido isentados de responsabilidade quando demonstram que:
- Agiram com diligência e ética;
- Esclareceram todos os riscos do procedimento;
- As complicações ocorreram por fatores imprevisíveis ou conduta inadequada do paciente.
Conclusão: Prevenção é a Chave para Evitar Litígios
A judicialização da cirurgia bariátrica é um fenômeno crescente, impulsionado por dificuldades de acesso e altas expectativas dos pacientes. Médicos e clínicas podem evitar ações judiciais ao:
- Garantir o consentimento informado adequado;
- Seguir rigorosamente os protocolos clínicos;
- Investir no acompanhamento pós-operatório e na documentação completa do tratamento.
Já os pacientes, por sua vez, devem conhecer seus direitos e buscar orientação jurídica especializada em casos de negativa de cobertura ou falhas no atendimento.
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