Guarda Compartilhada de Filhos Adolescentes: Como Respeitar a Opinião e a Autonomia do Jovem?

A dinâmica da guarda compartilhada sofre uma transformação radical quando os filhos entram na adolescência. Aquela criança que antes aceitava passivamente a rotina imposta pelos pais dá lugar a um jovem com vida social própria, opiniões fortes, uma agenda cheia de compromissos e um desejo crescente por autonomia. Tentar impor a um adolescente de 15 anos um rígido esquema de troca de casas 2-2-3 pode não apenas ser impraticável, mas também contraproducente, gerando ressentimento e resistência. A guarda compartilhada de adolescentes exige dos pais uma nova habilidade: a flexibilidade. É preciso sair do modo “comando e controle” e entrar no modo “negociação e supervisão”, respeitando a voz do jovem sem abdicar da responsabilidade parental.
Legalmente, a opinião do adolescente ganha um peso significativo. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Código de Processo Civil garantem que, a partir dos 12 anos, o adolescente tem o direito de ser ouvido em qualquer processo judicial que afete seus interesses. Embora a decisão final ainda seja do juiz, que ponderará todos os fatores visando o melhor interesse, a manifestação de vontade do jovem é um elemento de enorme relevância e raramente é ignorada sem uma justificativa muito forte. Isso significa que se um adolescente expressa um desejo claro e fundamentado de passar mais tempo em uma das casas – seja pela proximidade com a escola, com o curso ou com seu principal círculo de amigos – essa preferência precisa ser levada a sério pelos pais e pelo sistema de justiça.
O maior desafio para os pais é encontrar o equilíbrio entre respeitar essa nova autonomia e manter a estrutura necessária para o desenvolvimento saudável do adolescente. A flexibilidade não pode ser confundida com permissividade ou ausência de regras. A solução está em incluir o adolescente na construção do acordo de convivência. Em vez de impor um calendário, os pais devem sentar-se com o filho e perguntar: “Considerando sua escola, seus treinos e seus amigos, qual arranjo de convivência funciona melhor para você e para nós esta semana ou este mês?”. Isso não significa que o adolescente ditará as regras, mas que sua perspectiva será o ponto de partida para a negociação. O jovem que participa da criação das regras tem uma probabilidade muito maior de respeitá-las.
A comunicação entre os pais se torna ainda mais vital nessa fase. É preciso que haja um alinhamento constante sobre as regras e limites que valem em ambas as casas, especialmente em temas sensíveis como horários de chegada, uso de eletrônicos, permissão para festas e namoros. Se o adolescente percebe que as regras são frouxas na casa de um genitor e rígidas na do outro, ele inevitavelmente usará essa brecha para manipular situações, gerando conflito entre os pais e instabilidade para si mesmo. Manter uma frente unida, mesmo que discordem em particular, é fundamental para transmitir segurança e consistência.
É importante também que os pais compreendam as razões por trás das preferências do adolescente, que nem sempre estão ligadas a qual genitor ele “gosta mais”. Frequentemente, a escolha é puramente logística. A casa mais perto da escola ou do cursinho, a que facilita o encontro com os amigos ou a que tem uma internet melhor para os trabalhos escolares pode se tornar a preferida. O genitor que tem menos tempo de convivência presencial não deve interpretar isso como rejeição pessoal, mas sim como uma necessidade prática do filho. Para compensar, ele pode e deve se fazer presente de outras formas: participando de eventos importantes, mantendo contato diário por mensagens, ajudando com projetos escolares online e tornando os momentos juntos, mesmo que menos frequentes, em tempo de qualidade e conexão.
Em resumo, a guarda compartilhada de adolescentes bem-sucedida é aquela que substitui a rigidez do calendário pela fluidez do diálogo. É um modelo que respeita a individualidade e a crescente autonomia do jovem, mas que se ancora em regras claras e consistentes, mantidas por pais que, mais do que nunca, precisam atuar como um time coeso. Ao dar voz ao adolescente, os pais não estão perdendo autoridade; estão, na verdade, ensinando-lhe sobre responsabilidade, negociação e respeito mútuo, habilidades essenciais para a vida adulta que se aproxima.