Como a Adultização afeta as relações interpessoais de crianças e adolescentes?

A infância é o período em que se aprendem as habilidades sociais mais importantes: compartilhar, negociar, resolver conflitos e formar laços de amizade. No entanto, a adultização está mudando a forma como as crianças se relacionam, transformando a amizade em um campo de batalha de competição e de julgamento. Onde a simplicidade e a empatia se perdem, a pressão para ser popular, ter o brinquedo mais caro ou o perfil mais curtido assume o controle. Como a adultização está corroendo as relações interpessoais de crianças e adolescentes, e qual é o papel do Direito e da sociedade para resgatar a beleza das amizades autênticas?

A Competição Pela Popularidade e o Vazio das Relações

A adultização impõe às crianças um comportamento de performance que é a base da cultura do like. Isso leva a uma competição por popularidade que é a antítese da amizade. As relações deixam de ser baseadas em interesses comuns e na afeição, e passam a ser pautadas no status social, no número de seguidores ou no poder de consumo. A criança que não se encaixa nesse padrão — que gosta de brincar de boneca em vez de fazer vídeos para o TikTok, por exemplo — é excluída e marginalizada. O ECA, em seu artigo 15, garante à criança o direito de ser respeitada e a não ser discriminada, e a adultização, ao criar um ambiente de julgamento e exclusão, viola diretamente esse direito.

A Perda da Espontaneidade e a Inabilidade Social

As relações interpessoais das crianças adultizadas perdem a espontaneidade e se tornam cada vez mais calculadas. A criança está tão preocupada em ser “legal” e em agradar os outros que não consegue ser genuína. O tempo que deveria ser gasto em brincadeiras e em conversas informais é substituído pela produção de conteúdo para as redes sociais ou por discussões sobre temas adultos. Essa falta de tempo para a interação espontânea leva à inabilidade social, pois a criança não aprende a ler sinais sociais, a negociar conflitos e a desenvolver a empatia. A incapacidade de lidar com a diversidade e com as diferenças, tão comuns na infância, se manifesta em formas de violência verbal ou bullying.

A Abordagem Jurídica: O Dever de Proteção e Acolhimento

A escola e a família têm um papel fundamental na proteção das relações interpessoais. A escola, de acordo com o ECA, deve ser um ambiente de acolhimento e de respeito, onde o bullying e a exclusão são combatidos ativamente. A Lei 13.185/2015, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, exige que as escolas atuem de forma proativa para coibir a violência. Da mesma forma, os pais têm o dever de mediar o uso da tecnologia e de incentivar relações interpessoais saudáveis, baseadas na amizade e no respeito.

Resgatar o Valor da Amizade

Para combater a adultização nas relações interpessoais, é preciso um gatilho de conexão que nos faça valorizar o que realmente importa. É fundamental incentivar as brincadeiras fora da tela, o convívio social sem um “filtro”, e a construção de amizades baseadas na empatia e no afeto. As crianças precisam de tempo para se conectar com os outros de forma genuína, sem a pressão de uma vida de performance.

A amizade é o pilar de uma vida social saudável. O nosso dever é garantir que nossas crianças tenham o espaço e a liberdade para construir relações que sejam fortes, autênticas e que as preparem para um futuro de felicidade e de conexão. Você está pronto para ajudar a resgatar o valor da amizade na vida de uma criança?

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