Adoção Tardia: Desvendando Mitos e Desafios Jurídicos

Imagine o cenário: uma criança com mais de 7 anos ou um adolescente em busca de uma família, vivendo em um acolhimento institucional. A realidade é que a maioria dos pretendentes à adoção no Brasil busca bebês, o que deixa um grande contingente de crianças mais velhas e adolescentes esperando por um lar. Essa é a adoção tardia, um tema que carrega tanto desafios emocionais quanto barreiras jurídicas que precisam ser desvendadas.

Um dos maiores mitos em torno da adoção tardia é a ideia de que crianças mais velhas já vêm com “vícios” ou problemas de comportamento insolúveis. No entanto, a ciência e os estudos psicossociais mostram que o que essas crianças e adolescentes precisam, na maioria das vezes, é de um ambiente seguro e amoroso para se desenvolverem. A superação de traumas e a construção de novos vínculos são processos que, embora complexos, são totalmente possíveis com apoio e dedicação. Do ponto de vista jurídico, o processo de adoção é o mesmo, mas a preparação dos futuros pais para lidar com as particularidades da idade é um ponto central.

Os desafios jurídicos estão frequentemente ligados à necessidade de um acompanhamento psicossocial mais aprofundado. A lei exige que, em casos de adoção de adolescentes, o juiz ouça a opinião do menor, garantindo que sua vontade seja considerada. A Lei nº 13.509/2017 trouxe importantes mudanças ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para simplificar o processo, mas a complexidade emocional de crianças que já têm memória e consciência de sua história de vida exige uma preparação robusta por parte dos adotantes. O estágio de convivência, nesse contexto, torna-se ainda mais crucial para a construção de um vínculo genuíno antes da adoção ser formalizada.

Outro ponto de atenção é a questão do vínculo biológico. Em muitos casos, crianças mais velhas mantêm contato, mesmo que superficial, com suas famílias de origem, o que pode gerar conflitos após a adoção. É fundamental que o processo jurídico e o acompanhamento psicossocial preparem tanto a criança quanto a nova família para lidar com essas complexidades. A jurisprudência tem se inclinado a favor da proteção integral da criança, garantindo que o direito à família seja o norte de todas as decisões.

Em resumo, a adoção tardia não é um caminho mais difícil, mas sim uma jornada que exige consciência, maturidade e um coração aberto. A legislação e os avanços psicossociais oferecem as ferramentas necessárias para garantir que a transição seja a mais suave possível. Desmistificar esse processo é um passo fundamental para abrir portas para que milhares de crianças e adolescentes encontrem o lar que merecem, quebrando o ciclo de abandono e acolhimento institucional.

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