A cultura dos ‘desafios’ online e a Adultização: Quando a diversão se torna perigo

A internet é um campo fértil para a cultura do “desafio”. De danças a performances ousadas, os desafios virais capturam a atenção de crianças e adolescentes, que se sentem pressionados a participar para se sentirem parte de um grupo. No entanto, o que começa como uma brincadeira inocente pode se transformar em um perigo real, impulsionando a adultização e expondo a criança a riscos físicos, morais e psicológicos. Quando a busca por fama e validação online leva uma criança a imitar comportamentos adultos e a arriscar sua própria segurança, a diversão se torna um problema para a lei.

Do Lúdico ao Perigoso: A Pressão do ‘Desafio’

A maioria dos desafios online é inofensiva e lúdica. Mas, a busca por viralizar e a necessidade de se destacar na multidão faz com que os desafios se tornem cada vez mais extremos. Crianças são expostas a desafios que as levam a imitar comportamentos de risco, a usar roupas inadequadas, ou a fazer coreografias com conotação sexual. Essa pressão para imitar um comportamento adulto é a essência da adultização, e a criança, em sua falta de discernimento, não consegue enxergar o perigo por trás da “diversão”. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 15, garante à criança o direito a um desenvolvimento livre e sadio, mas os desafios online, ao expô-la a riscos, violam essa garantia.

A Responsabilidade Jurídica de Plataformas e Criadores

A questão legal dos desafios online é complexa. Em casos de desafios que resultam em dano físico ou moral, a responsabilidade penal e civil pode ser aplicada. Se um desafio leva uma criança a um ferimento grave ou à morte, os criadores do desafio e as plataformas que não removeram o conteúdo podem ser responsabilizados. O ECA, em seu artigo 243, prevê a punição de quem “induz ou incita uma criança a cometer ato que cause dano à sua integridade física ou psíquica”. Embora seja difícil rastrear todos os responsáveis, a pressão por responsabilização legal está crescendo, e a lei começa a enxergar que as empresas de tecnologia têm um dever de cuidado com seus usuários mais vulneráveis.

O Papel dos Pais e a Conversa como Ferramenta

A melhor forma de proteger a criança dos desafios perigosos é a conscientização e o diálogo. Os pais precisam se informar sobre as tendências digitais e conversar abertamente com seus filhos sobre os riscos. Em vez de simplesmente proibir, é preciso entender a motivação por trás da participação no desafio e mostrar, com empatia, os perigos envolvidos. A mediação digital ativa se torna, nesse cenário, a principal ferramenta para que a criança desenvolva um senso crítico e não ceda à pressão da manada digital.

Quando a Diversão Não é Diversão

A cultura dos desafios online é um espelho de uma sociedade que valoriza a popularidade e o espetáculo acima da segurança. É hora de reconhecer que a diversão que coloca em risco a vida e a integridade de uma criança não é diversão, e que a lei e a sociedade precisam agir para reverter essa cultura. Proteger a infância é um dever coletivo, e cada um de nós, ao alertar sobre os perigos e ao denunciar conteúdos nocivos, pode ser o gatilho de alerta que salva uma vida.

Você está disposto a questionar os desafios que chegam até você?

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