A Adultização e a educação: O direito de aprender e se desenvolver sem pressa

A escola deveria ser um refúgio para a criança, um ambiente de aprendizado e descobertas. No entanto, em uma sociedade que valoriza a performance e a produtividade, muitas escolas acabam, de forma inadvertida, contribuindo para a adultização. O excesso de conteúdo, a pressão por notas altas, as agendas lotadas e a competição por vagas em universidades transformam a jornada educacional em uma corrida de obstáculos que rouba da criança o direito de aprender e de se desenvolver no seu próprio ritmo. Mas, o que a lei e a pedagogia dizem sobre essa pressa, e como podemos garantir o direito à educação sem a ansiedade da adultização?
A Pressão por Resultados e o Desrespeito ao Ritmo Biológico
O sistema educacional, muitas vezes, ignora a principal regra do desenvolvimento infantil: cada criança tem seu próprio tempo. Quando a escola foca em resultados e não no processo de aprendizado, ela cria um ambiente de estresse que não é compatível com a infância. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 53, assegura o direito à educação “visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa”. O termo “pleno desenvolvimento” é a chave. Ele não se refere apenas ao acúmulo de conhecimento, mas ao desenvolvimento social, emocional e psicológico. A adultização na educação, ao colocar o foco em metas de desempenho e rankings, negligencia esses aspectos vitais.
A Pedagogia do Brincar e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que regulamenta o sistema educacional brasileiro, enfatiza a importância de uma educação que respeite a individualidade e o desenvolvimento integral do aluno. A pedagogia moderna, por sua vez, defende o aprendizado lúdico e a importância do brincar como forma de assimilação de conteúdo e de desenvolvimento de habilidades sociais. A adultização, ao substituir a brincadeira por tarefas e a criatividade por repetição, viola os princípios de uma educação que prepara para a vida, e não apenas para um teste.
O Bullying e a Pressão Social na Escola
A adultização se manifesta nas escolas não apenas na forma de excesso de lição de casa, mas nas interações sociais. Crianças são julgadas por seu vestuário, pela sua “imaturidade” ou pela falta de interesse em temas adultos. O bullying, que é uma forma de violência psicológica, muitas vezes se alimenta desse cenário. A escola tem o dever legal de combater todas as formas de violência, e isso inclui o bullying que impulsiona a adultização. Educar os alunos sobre a diversidade, a importância de respeitar o tempo do outro e a beleza da infância é um dever jurídico e moral da instituição de ensino.
O Papel dos Pais e dos Educadores na Proteção
O combate à adultização na educação começa com os pais e educadores. Os pais precisam se conscientizar de que uma infância sem tempo livre para a brincadeira não é sinônimo de sucesso futuro, mas de estresse e esgotamento. Os educadores, por sua vez, devem ser treinados para identificar sinais de adultização e para adotar metodologias que valorizem o processo, e não apenas o resultado. A escola deve ser um porto seguro, um lugar onde a criança pode ser ela mesma, sem a pressão de ser “perfeita” ou de “ter sucesso” antes da hora.
O direito de aprender e de se desenvolver sem pressa é o alicerce para uma vida adulta saudável e feliz. A educação não é uma corrida, mas uma jornada, e o nosso papel, como sociedade, é garantir que essa jornada seja repleta de descobertas, curiosidade e, acima de tudo, alegria. A sua escola está fazendo a sua parte para proteger a infância?